
Atualmente, o AVC é a segunda principal causa de morte no mundo, responsável por cerca de 11% de todas as mortes globais
O acidente vascular cerebral (AVC) ultrapassou o infarto como a principal causa de morte cardiovascular no Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC). Entre janeiro e agosto de 2024, 39.345 brasileiros morreram vítimas de AVC, o equivalente a seis mortes por hora. No total, foram 85.427 óbitos por AVC em 2024, número superior às 77.886 mortes por infarto registradas no mesmo período, de acordo com o Portal da Transparência do Registro Civil (Arpen Brasil).
O levantamento global do Global Burden of Diseases (GBD Study) mostra que o número de casos de AVC aumentou 70% entre 1990 e 2021, com 44% mais mortes e 32% mais sequelas graves. Atualmente, o AVC é a segunda principal causa de morte no mundo, responsável por cerca de 11% de todas as mortes globais.
O alerta se intensifica às vésperas do Dia Mundial de Prevenção ao AVC, celebrado em 29 de outubro, data marcada para conscientizar a população sobre os riscos e a importância do reconhecimento rápido dos sinais da doença.
O neurocirurgião funcional Rômulo Marques, do hospital Unique, reforça a importância da prevenção e do atendimento imediato. “Enquanto outros países reduziram as mortes por AVC com prevenção e atendimento rápido, o Brasil ainda enfrenta diagnóstico tardio, desigualdade no acesso à saúde e baixa adesão ao tratamento contínuo”, afirma.
O tempo é o principal fator para salvar o cérebro e evitar sequelas. “A janela terapêutica é curta: a trombólise pode ser feita em até 4,5 horas e a trombectomia, em até 24 horas em alguns casos. O reconhecimento dos sinais é fundamental para o sucesso do tratamento”, explica o neurocirurgião.

O especialista alerta que o aumento das mortes está diretamente ligado ao controle inadequado da pressão arterial, diabetes e colesterol, além de hábitos de vida prejudiciais, como má alimentação, sedentarismo e uso de substâncias.
Os sintomas mais comuns são conhecidos como FAST, adaptado para o português: rosto (assimetria facial, boca torta), braços (fraqueza ou dificuldade de levantar um dos braços); fala (fala arrastada ou incompreensível) e tempo (acionar imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) pelo número 192).
“Cada minuto conta. Quanto mais rápido o diagnóstico e o início do tratamento, maiores são as chances de recuperação completa e menores os riscos de sequelas permanentes”, reforça Rômulo Marques.
O neurocirurgião também alerta para o crescimento dos casos de AVC entre jovens. A principal causa nessa faixa etária é a dissecção arterial, uma ruptura na parede da artéria que pode interromper o fluxo de sangue ao cérebro, podendo surgir após traumas leves, movimentos bruscos ou exercícios intensos.
“Temos visto um aumento de AVCs em jovens ligados a fatores antes típicos de adultos mais velhos — hipertensão, obesidade, tabagismo, uso de drogas e estresse crônico. Os hábitos de vida estão piores e o controle médico, menor”, observa.
É consenso entre especialistas que os infartos são mais comuns em pessoas acima dos 40 anos. No entanto, também é crescente a percepção de que casos de infarto estão se tornando mais frequentes em indivíduos abaixo dessa faixa etária.
Os números confirmam a tendência: dados do Ministério da Saúde mostram que as internações de pessoas abaixo de 40 anos em decorrência de infarto passou de 1,7 casos por 100 mil habitantes em 2000 para quase cinco em 2022, ou seja, um aumento de 184%.
Prevenção e tratamento
Para Rômulo Marques, a prevenção é o caminho mais eficaz para reduzir os casos. “É essencial reduzir o consumo de sal e ultraprocessados, manter uma alimentação rica em frutas, verduras e grãos integrais, praticar atividade física regularmente e evitar tabaco e álcool em excesso”, orienta.
Ele também destaca a importância da reabilitação para quem sobrevive ao AVC. “A reabilitação começa nas primeiras 48 horas e envolve fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos e médicos. Novas técnicas de neuroestimulação guiadas por inteligência artificial têm mostrado resultados promissores, mas o acesso ainda é limitado no SUS”, explica.
Créditos: Divulgação / Imprensa









